terça-feira, 5 de outubro de 2010

SP Escola de Teatro / CEPECA - USP


SP Escola de Teatro / CEPECA – USP



Protocolo da aula do dia 23/09/2010

Escrito por: Jó Bichara



Quinta-Feira, nosso último dia de aula, agora, só nos resta a saudade, só nos resta as pesquisas e as lembranças da turma. Depois desse dia, os dias não serão os mesmos, nós não seremos os mesmos, nossa concepção teatral vai mudar. Restará nas lembranças esse último dia e os anteriores, as conversas, os debates da turma, os risos, as polêmicas, os professores, neste último dia, logo na chegada de todos, olhei para cada um, cada rosto, cada olhar, uns sei que voltarei a encontrar, outros não tenho tanta certeza, mas de uma coisa eu sei, sentirei saudades.
Fizemos nosso ultimo aquecimento coordenados pela excepcional Renata Mazzei, já na sala se encontravam Rejane, Edu e Evinha. Feito nosso “aquecimento” e trabalho corporal, passamos então a experimentar nossa cena concebida, começamos o trabalho na prática, aos olhos dos atenciosos e dedicados educadores do CEPECA, logo mais adiante, cerca de uma hora, seria nossa tão esperada APRESENTAÇÃO !, estávamos compenetrados no trabalho e depois de passarmos nossa cena algumas vezes, Rejane e os demais educadores sempre com seus olhares especiais e seus talentos inigualáveis, tocaram com maestria nosso trabalho e causaram uma interferência positiva para engrandecer ainda mais esse resultado que havíamos criado, com isso, nossa cena ou resultado final, foi aos poucos se moldando em pequenos novos detalhes e com isso tomando uma forma mais plausível, mais vistosa... era uma dica aqui, outra ali e atentos fomos acolhendo esses últimos ensinamentos e chegamos num resultado final, agora com começo, meio e fim, não havia mais tempo pra nada. Foi então que com a presença do Juliano (Coordenador dos Cursos de Difusão da SP Escola de Teatro) e demais membros do CEPECA (Cadú, Adriano e Renata Kamla) apresentamos o que construímos durante todo processo de aprendizado.
Ao final, em roda, debatemos as técnicas, as emoções, ações, sentimentos, processos e acima de tudo o orgulho de termos participado de tão honrosa companhia e maestria junto aos amigos (creio que já posso dar esta denominação) do CEPECA e aliado a isso, também frisamos o acolhimento que a SP Escola de Teatro e o Juliano nos proporcionaram.
Espero que nessa VIDA possamos semear a arte de maneira sempre a conduzir ao caminho do amor, do respeito, da igualdade e acima de tudo da amizade. Cada gota de suor, cada desesperança, cada dor no corpo, cada dúvida, valeu muito a pena, no final o que ficou foi o aprendizado, o crescimento, a intelectualidade, o conhecimento e o amor. Meu muito OBRIGADO a todos.

domingo, 19 de setembro de 2010

Protocolo da aula dia 16/09/2010 = SP Escola de Teatro - CEPECA (USP)

SP Escola de Teatro CEPECA (USP)


Protocolo da aula dia 16/09/2010

Elaborado por: Jó Bichara


Mais uma Quinta-Feira e conosco Edu de Paula e sua pesquisa “O Ator no Olho do Furacão”, o dia estava gostoso e pra esquentar todos nos reunimos num agradável bate-papo “profissional” [espetáculos, escolas, técnicas, Stanislavski, Grotowski, Barba e esclarecimento de dúvidas], após, partimos para o treinamento onde iniciamos uma caminhada pelo espaço, algumas condições foram propostas, ou seja, passamos a realizar tal caminhada pelo espaço em uma escala que ia de 0 a 10 (10 é considerado o centro do furacão, um lugar calmo, quente), isso ao mesmo tempo é um ponto de partida e um ponto de chegada, com isso fomos observando aspectos como freqüência; espaço; direção; velocidade e intensidade e mais tarde fomos experimentando também aspectos de temperatura, ou seja, aliamos o exercício a temperaturas como aragem, brisa, garoa, chuva, tempestade e ventania, todas essas metáforas formaram o conjunto da nossa investigação.
Mais adiante, espalhados pela sala, fomos orientados a encontrar um colega através do olhar e com isso estabelecermos uma relação através de palavras e mais adiante gestos, onde num primeiro momento de estabelecimento, caminhávamos em direção ao colega escolhido e com a ação de palavras dizíamos: Olá, tudo bem?, num segundo momento, caminhávamos em direção ao colega e com a ação de gestos estendíamos a mão para um cumprimento e num terceiro momento, utilizamo-nos do gesto de abraçar, munidos dessas opções e incorporando nosso deslocamento em escala, demos seqüência ao treinamento agora regido por deslocamento, aspectos, temperatura e relacionamento. Iniciávamos com a escolha da pessoa através do olhar, seguíamos nossa direção com a “velocidade” já pré escolhida e nos relacionávamos com a intenção também já pré escolhida e finalizávamos com a escolha de um lugar e um STOP (parada). Durante este exercício, executamos a retenção dos impulsos, uma análise para observar desenhos corporais, ou seja, parávamos repentinamente em certos momentos e olhávamos para os colegas e suas posturas. Mais tarde, utilizamos esse jogo e ou exercício em duplas, enquanto os demais apenas observavam.
Agora, no momento preciso, voltamos a trabalhar nossa “cena” final, apresentamos ao Edu e ao final dessa primeira apresentação tive a idéia de incorporar junto a cena uma seqüência baseada no exercício que acabávamos de fazer, onde num certo momento girávamos em torno da Sônia e tal giro se deslocava em escala, e conseguimos com isso aliar espaço, direção, velocidade, intensidade e temperatura.
“O que caracteriza o ator no início é a aquisição de um ethos. Ethos no sentido de comportamento cênico, isto é, técnica física e mental; e no sentido de ética de trabalho, de mentalidade modelada pelo ambiente humano no qual se desenvolve a aprendizagem.” (BARBA, 1993: 95) De acordo com este princípio, o ator deve desenvolver um comportamento pessoal face aos companheiros, ao trabalho e à arte desde o começo do seu caminho enquanto criador.
Mais uma vez apresentamos nossa cena com o que foi incorporado e ao final, Edu fez algumas sugestões e observações muito preciosas, onde todos atentos captaram e levaram pra si o que acharam de importante. Utilizamos uns dez minutos finais para decidir questões e aspectos administrativos e visuais da apresentação. Assim foi mais um dia de aula, se me permitem digo de passagem, aulas essas que são de um prazer enorme e de um aprendizado sem tamanho com pessoas especiais que vão desde o Profº Dr. Armando Sérgio, passam pelos orientadores professores do CEPECA e chegam ao carinho dos aprendizes Rodrigo, Rodolfo e Sônia que já carrego todos no coração.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

SP Escola de Teatro - CEPECA (USP) / Protocolo da aula do dia 09/09/2010

SP Escola de Teatro CEPECA – Centro de Pesquisa em Experimentação Cênica do Ator


Protocolo da aula do dia 09/09/2010

Elaborado por: Jó Bichara


Vamos lá, hoje com Cadú e Renata, ou seja, “O Ator Musical: a musicalidade como eixo central na composição cênica” e “Um olhar, um novo olhar, através de...”, a máscara uma possibilidade pedagógica. Começamos o trabalho de hoje tocando nosso próprio corpo como se estivéssemos “despregando” toda nossa pele, todo nosso corpo. Longo tempo “despregando” a pele, depois continuamos a sentir nosso corpo, como se estivéssemos nos moldando, como se fossemos feito de massinha e aos poucos fomos nos aproximando dos colegas, e com tal aproximação, passamos a tocar o colega sem deixar de nos perceber também, exploramos todo o corpo do outro com o intuito de procurarmos o que o outro corpo tem que nos assemelha a nós ou o que o outro tem que se difere de nós e depois de certo tempo, ainda tocando uns aos outros, todos começaram a se deslocar pelo espaço até o encontro entre todos seguido de um toque mútuo, formando um só desenho, uma só forma, lembrando que a respiração é fundamental, jamais esquecer de respirar com consciência.
Passamos para um exercício de respiração e voz onde ao falar uma vogal, a transmitíamos por todo o nosso corpo, ou seja, emitíamos o som de uma vogal e fazíamos esse som ressoar por partes do corpo isoladamente, como: cabeça, face, pescoço, peito, diafragma. Brincamos-testamos vogais e consoantes e aprendemos a ouvir os sons emitidos por partes diferentes do nosso corpo. Depois individualmente, uma pessoa se dirigia ao centro da roda e os demais tocavam alguma parte do corpo da pessoa que estava ao centro e com isso a mesma pessoa do centro devia falar uma frase ressoando dessa parte que era estimulada pelos colegas, esse estímulo deveria ser feito de maneira acintosa, com diversas partes do corpo.
Fomos então para as máscaras, todos recebemos uma máscara, cada um com uma diferente da outra, e de olhos fechados começamos a sentir essa máscara, a tocá-la e depois de um tempo tocando-as, abrimos os olhos e começamos a “estudar” a máscara que nos foi dada. Depois começamos a pronunciar nossas frases “encarnados” na imagem que retiramos de nossas máscaras e mais adiante as máscaras foram retiradas de nossas mãos, mas continuamos com nosso trabalho de pronuncia (voz) e encarnação (máscara). Entre essa “encarnação”, podíamos responder aos estímulos gerados pelos outros. Junto a tudo isso, nosso corpo também se moldou a essa “encarnação” e foi criando formas. Passamos depois para um exercício onde tinha os mesmos parâmetros só que agora recebemos máscaras diferentes, realizamos todo o processo novamente e criamos uma nova fala e corpo. Tínhamos agora uma frase dita de maneiras diferentes, com corpos diferentes. Com tudo isso adquirido, fomos agora para um novo processo de experimentação, onde devíamos esquecer todas as formas corporais adquiridas até o momento e experimentar novas alternativas, sempre ressonando nossa frase e ou texto nos tons que descobrimos anteriormente, lembrando: estamos experimentando corpo e não voz. Depois de certo tempo experimentando, escolhemos dois movimentos corporais e adaptamos a fala e apresentamos individualmente. Com isso passamos a experimentar tudo isso nas diversas ressonâncias corporal.
Tudo isso serviu para acrescentar na nossa criação até o presente momento e com isso também foi sugerido montar uma pré-cena antes da cena já composta anteriormente, ou seja, isso que havíamos feito até o momento foi acrescentado na nossa apresentação final. Com isso voltamos a apresentar nossa cena composta até o momento, acrescentando tudo isso que vimos nessa aula.

domingo, 5 de setembro de 2010


Apresenta:
MIRAFLORES




Espetáculo selecionado para o encerramento do XVI FESTIVAL DE TEATRO DE VINHEDO 2009
Espetáculo premiado em quatro categorias no VIII FESTIVAL DE TEATRO DE MOGI MIRIM 2009

Data:
08/09 (4ª feira) às 20h00
Local: Vinhedo-SP - Teatro Municipal Sylvia de Alencar Matheus Rua Monteiro de Barros, 101
Valor: Gratuito, bilheteria abrirá 1 hora antes do espetáculo

20/09 (2ª feira) às 19h30 e 24/09 (6ª feira) às 19h30
Local: Campinas-SP - Auditório IA ( Unicamp ) Rua Elis Regina, 50Valor: Gratuito, retirar senhas com 1 hora de antecedência no local

Produção: Jó Bichara
Direção: Adilson Ledubino
Direção Musical: Eduardo Virgílio

Elenco: Amanda Moreira
Eduardo Virgílio
Henrique César Vieira
Letícia Frutuoso
Rafael Santin
Vítor Paranhos

O ESPETÁCULO - Miraflores é a história de uma cidade imaginária e também a de seus moradores que, após fugirem da cidade da “Ratoeira”, crêem ter encontrado ali um lugar ideal para se viver. Das relações mais cotidianas e imediatas desvelam-se detalhes extraordinários que, no fundo, não têm nada de novo. Os tais moradores são como qualquer um de nós, pessoas... comuns. Porém, a utopia de uma vida igualitária e harmoniosa é destruída pela ação corrosiva do poder. As personagens seguem em nova retirada. Porém, terão eles encontrado o que procuram?

O TEXTO - O texto dramaturgico de Miraflores é resultado de processo colaborativo pautado na obra de Bertolt Brecht (usado como método de montagem) e baseado nos textos sobre poder de Michel Foucault (como temática principal). Estruturado em um prólogo, cinco quadros e um epílogo, que se ligam para contar a história dos moradores de uma nova cidade, tem como fio condutor três gerações de mulheres que representam o sonho, a decepção e a luta perseverante e esperançosa na mudança. É um retrato atemporal, supostamente localizado num território distante e imaginário, mas que ainda assim, nos fala diretamente, chamando-nos à reflexão sobre as formas de relacionamento que reinam entre os seres.

O PROCESSO COLABORATIVO - Modo de produção teatral pautado no coletivo, buscando garantir a todos os participantes o espaço para a criação. As fronteiras tradicionalmente rígidas no teatro são derrubadas e a troca entre os diversos profissionais é permitida e encorajada. O texto não é mais posse do dramaturgo, nem o palco reinado intocável do ator, nem a encenação exclusividade do diretor. Todos opinam e colaboram em tudo, ainda que as funções sejam mantidas para um bom funcionamento do trabalho. No processo colaborativo se conhece o ponto de partida, nunca o de chegada. Este é resultante da relação direta entre todos os envolvidos da Cia. Bancante de Teatro na sua concepção de criação.

“Na História, como na Natureza, a podridão é a fonte da vida, da mudança”.(Eduardo Galeano)

sábado, 4 de setembro de 2010

SP Escola de Teatro - CEPECA (USP) / Protocolo da aula do dia 02/09/2010

SP Escola de Teatro – CEPECA (USP)

Técnicas Convergentes na Criação Cênica do Ator


Protocolo da aula do dia 02/09/2010

Autor: Jó Bichara


Nossa aula de hoje foi conduzida pelos Professores/Orientadores: Carlos Eduardo (Cadú) e pela Débora Zamarioli e nosso “start” inicial da aula foi um trabalho no chão proposta pela Débora, imaginamos uma estrela do mar (como desenho) e trabalhamos pensando em seis “pontas” para condução, ou seja, membros (pés e mãos) e uma linha que puxava do cóccix à cabeça, com isso fizemos com que nossos corpos se esticassem ao máximo e ao encolher, também encolhíamos ao máximo indo pra posição fetal, sempre trabalhando com a consciência da respiração (inspira e abre, expira e fecha) e usando ambos os lados (direito e esquerdo), ao decorrer, começamos a aumentar esse movimento tirando o corpo do chão usando nossos apoios e voltando para o chão e por conseguinte fomos avançando para outros planos (baixo, médio e alto), dando seguimento, passamos a trabalhar no plano alto mas agora com tempo, onde num tempo de seis nos expandíamos ao máximo e mais seis para nos retrairmos ao máximo, depois num tempo de dois para expandir e seis para retrair. Nesse momento nosso sistema endócrino parece que estava a todo vapor, os hormônios vibravam. Após, passamos a trabalhar com formas de vogais (a; i; u) onde nosso corpo seguia uma flexibilidade da boca, a vogal “A” por exemplo da uma precisão de cima e baixo, a vogal “I” de direita e esquerda e a vogal “U” de frente e trás, nesse exercício nosso corpo todo respondia conforme a vogal pronunciada (muito interessante – nosso corpo cênico).
Seguindo adiante, Cadú iniciou um processo de respiração, num momento em que utilizamos da respiração para preencher três espaços em nosso corpo (diafragma, região peitoral e por entre as costelas), inspirávamos em três fases e expirávamos em três, sempre enchendo e esvaziando, depois ainda trabalhando a mesma respiração andamos pela sala e num passo mais adiante aliamos a respiração, ao caminhar e acrescentamos movimentos, pronto, nosso corpo e mente agora exerciam um processo fantástico. Veio então o “shake” proposto pelo Cadú, onde trabalhamos com o movimento do quadril isoladamente como se estivesse girando num “shake”, esse movimento foi então proposto para a parte de cima (região peitoral) isoladamente e em seguida trabalhamos com o “shake” subindo e descendo (quadril e peito), junto a isso acrescentamos um som para determinado “shake” (quadril = E; Peito = I; por exemplo) e depois começamos a explorar outras possibilidades de “shakes” em nosso corpo (mãos, braços, pescoço, dedos, etc:).
Agora, neste momento da aula, Rodrigo nos mostrou novamente o vídeo criado e reeditado por ele para usarmos no resultado final, todos acharam maravilhoso e dando seqüência, escrevi na lousa o que havíamos “determinado” no encontro anterior, ou seja, os passos que tínhamos pensado para compor nosso projeto de cena, daí veio a proposta de Cadú e Débora de apresentarmos o que estava pronto, mas de uma maneira diferente, foi traçado uma espécie de Y no chão, uma marcação com três espaços distintos onde possuíam o seguinte significado: Espera; Chegada e Encontro. E dentro desse espaço que iríamos apresentar o que foi composto por nós até o momento, com uma regra imposta (nenhum desses três espaços poderia fica vago em nenhum momento, teria que ter alguém ocupando sempre um dos espaços) e assim foi feito, durante longo tempo fomos improvisando, testando, brinca29 perceberam que o fim chegou.
Ao centro do círculo, professores-orientadores e alunos se reuniram para uma discussão desse trabalho de hoje, primeiramente Cadú e Débora expuseram o que viram aliando dicas valorosas e importantes e os alunos (atores e atrizes) intercalando com comentários sobre o feito. O que de mais importante foi tirado disso tudo e o que ficou nítido é que quando retornamos ao modelo “antigo” trabalhando a cena com estações a fluidez se deu muito melhor, também surgiram muitas coisas boas como (sensações, imagens, palavras, atrumo depois que continuei pesquisando nossa linha de início do trabalho que foi a música “Valsinha – Chico e Vinícius”, mas para fechar esse parênteses posso conferir que foi interessante essa sensação de recomumplicidade, de doação, de entrega e acima de tudo de AMOR.
Que relevem se por acaso esqueci algo, confesso que minha memória não é das melhores, mas o processo contínuo me faz ser um bom guardador de lembranças.

"Ah, memória, inimiga mortal do meu repouso!” (Miguel de Cervantes)

Bjão
Jó Bichara

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Análise estilística da canção Valsinha

Olá Galera;

Achei muito interessante uma análise sobre a VALSINHA de Chico Buarque e Vinícius de Moraes, essa música que foi a premissa do nosso processo pedagógico.
Abaixo publico para compartilharmos todos.

Bjão




::. Análise estilística da canção Valsinha Vinícius e Chico Buarque .::


Elaboração: Prof. José Atanásio da Rocha


VALSINHA
De: Vinícius – Chico Buarque

Um dia ele chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar
Olhou-a de um jeito muito mais quente do que sempre costumava olhar
E não maldisse a vida tanto quanto era seu jeito de sempre falar
E nem deixou-a só num canto, pra seu grande espanto convidou-a pra rodar
Então ela se fez bonita como há muito tempo não queria ousar
Com seu vestido decotado, cheirando a guardado de tanto esperar
Depois os dois deram-se os braços como há muito tempo não se ousava dar
E cheios de ternura e graça foram para a praça e começaram a se abraçar
E ali dançaram tanta dança que a vizinhança toda despertou
E foi tanto felicidade que toda cidade se iluminou
E foram tantos beijos loucos, tantos gritos roucos como não se ouviam mais
Que o mundo compreendeu
E o dia amanheceu
Em paz


Memória discursiva.

Valsinha, uma canção de Chico Buarque de Holanda dedicada a um movimento social dos anos 70 denominado hippie, pregava a liberdade de ação do indivíduo. Essa prática levava as pessoas a agirem livremente e sem preconceito no período de repressão do Governo Militar. Normalmente, seus seguidores viviam em grupos, preconizavam o amor, aboliam a discriminação racial e faziam sexo livremente, isento de condenação. A alusão que Chico faz ao movimento é figurada na performance de um casal que, “um dia“, muda a sua conduta e toma outro rumo na vida. A homenagem a esse evento de vanguarda retrata metaforicamente o lirismo vivido por seus integrantes como artifício para fugir da censura política.

Estrutura do texto.

Valsinha é estilisticamente um poema. Além de sua estrutura poética, possui a narrativa, o que faz dela um mini conto, pois possui um só núcleo. Sua narração começa em um momento qualquer (um dia) e as ações são introduzidas seqüencialmente até chegar a um fim esperado. Por isso, a narração é heterodiegética, centrada no narrador. Com o foco narrativo na 3.ª pessoa, o narrador vê tudo à distância e conduz o fato sem interferir na história. Assim, o ele controla todo o saber, sem limitações de profundidade externa ou interna, em todos os lugares ou em todos os tempos. Em resumo, o texto é narrado por um narrador onisciente.

Marcadores da narrativa e da oralidade.

O texto apresenta conjunções como marcadores da oralidade, nas quais o narrador apóia-se para sustentar sua narrativa. Ex. e..., e..., pra..., depois..., então... Como marcadores da narrativa destacam-se o tempo (um dia, muito tempo), o espaço (num canto, praça, cidade, o mundo) e os verbos que cumprem sua função nas modalidades de pretérito perfeito e Imperfeito: “Chegou...”, “diferente...”, Olhou-a ...”, “costumava ...”, “maldisse...”.

Da instância lexical.

Palavras mais sedutoras: “quente..., bonita..., decotado..., ternura..., beijos loucos”.
Palavras mais próximas semanticamente: “A guardado... esperar; Há... muito tempo; ternura... graça; despertou... iluminou; gritos... ouvir; compreensão... paz; maldisse... falar; só... canto; bonita... ousar; tanto... tantos; dança... rodar.”
Palavras mais distantes semanticamente: chegou... foram; maldisse... paz; diferente... sempre; só... abraçar.
Por conta do entendimento semântico de Valsinha, que retrata uma ação diferente do passado e nos remete à idéia de aproximação, há poucas palavras que se contrapõem no sentido de distanciamento.

O eixo paradigmático da canção.

Do ponto de vista sintático, podemos destacar os sujeitos presentes na canção (SN – sintagma nominal) e seus respectivos predicados (SV – sintagma verbal). Na primeira fase da apresentação o SN é o pronome definido ELE. Na segunda, ELA. Finalmente OS DOIS. Há, também, outros SN que são introduzidos no enredo e fazem parte do contexto, sem importância central. São eles: Toda a Cidade...; A vizinhança...; Beijos loucos...; Gritos roucos...; O mundo...; O dia. Mas o eixo paradigmático da canção é marcado pelo SV, mais notadamente com a presença dos verbos terminados em AR, como por exemplo: “chegar...; Olhar...; Rodar; Ousar etc.

Metáforas

A canção é inteiramente metaforizada. Algumas metáforas mais expressivas podem ser destacadas facilmente na canção.
Metáfora Sentido semântico
Vestido decotado - Camisola.
Cheio de ternura - Cheio de desejos, volúpia.
Foram para a praça - Foram para a cama.
Só num canto - Abandonada.
Pra rodar - Fazer amor.
Cheirando a guardado - Engavetado.
Dançaram tanta dança - Fizeram muito sexo – Jogo do amor.
O mundo compreendeu - A felicidade é transparente.

Jogo das pressuposições.

Tomemos como exemplo o seguinte verso: “um dia ele chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar”. Por esse verso pressupõe-se que antes do movimento hippie os sentimentos femininos em relação à liberdade sexual eram mais reprimidos. A manifestação de desejos e emoções em relação à vida sexual não se dava de maneira explícita. Com o seu surgimento, as relações humanas sofreram uma mudança brusca de comportamento, principalmente afetivo. A partir daí, os sentimentos e desejos são mais encorajados pelo prazer, sem censura, sem repressão ou sem estado de culpa. A liberdade nele presente permitiu transformar sentimentos que antes eram introspectivos e ocultos em demonstrações mais eróticas.

Conclusão do ponto de vista estilístico.

Valsinha é uma canção que pode ser considerada como um mini conto. Sua história ocorre no pretérito, em um momento qualquer, e chega a um tempo indeterminado com a exibição de uma sensível mudança de estado. Para consolidar as ações e estabelecer marcas que determinam seu intento, o eu-lírico narra na 3.ª pessoa, com verbos enfáticos que consagram um gesto pragmático no tempo. Para isso, esses sintagmas verbais se apresentam, quase que sempre, com as desinências temporais nos pretéritos perfeito e imperfeito. Assim, “um dia” ele “chegou”, “olhou” e convidou”. Chegou de maneira diferente do usual, mudando o estado em que se encontrava, pois “costumava” agir de uma maneira e passa por uma transformação, a ponto de externar seus sentimentos incutidos e sufocados em “gritos roucos”, como não se “ouviam” mais. Para provocar a idéia de valsar, o autor vale-se de repetições como “tanta dança”, “tanta felicidade”, “tantos beijos”, “tantos gritos”, criando uma mistura de significados que provocam um verdadeiro “rodopio” na percepção do leitor, até atingir seu intento. Outro importante detalhe a ser observado é que os versos começam organizados e longos e, à medida que o enredo vai tomando seu curso final, eles se encolhem e incorporam elementos que nos remetem à idéia de estreitamento e movimentos circulares, como se quisessem simular os movimentos de uma valsa. Seus recursos estilísticos são vastos. Do ponto de vista lexical, o autor usa palavras que se assemelham, cujos pares residem na mesma raiz, na tentativa de provocar o mesmo significado. Nesse sentido, podemos dizer que Valsinha é a mais pura poesia, pois as palavras vão e vêm provocando fortes sentimentos na sua interpretação. Morfologicamente, as raízes das palavras também se fazem presentes, mas com o uso de categorias diferentes dos verbetes. É o caso do verbo “dançar” e do substantivo “dança”. Na relação morfossintática, observamos que o grande paradigma fica por conta do sintagma verbal, que ricamente se alterna em diversas situações. Nesse sentido, o sintagma nominal ganha outras formas e age de maneiras diferentes, destacando-se em importância no enredo. Os verbos se apresentam com rigor e firmeza. Suas ações são decisivas. Às vezes eles mudam de estado, passando de pretérito perfeito para imperfeito, para provocar uma idéia de continuidade. É o caso de “costumava”. Não é só na rica estrutura estilística que o poema é admirado. Do ponto de vista semântico, Valsinha provoca uma grande surpresa. Com metáforas ricas e invariavelmente “in absentia” (ausente), como podemos observar em “seu vestido decotado”, o sentido figurado de suas metáforas consolida-se em uma metáfora maior que enaltece o movimento hippie da década de 70, em pleno regime de ditadura militar. Esse movimento social não se sujeitava às imposições retraídas da sociedade de então, permitindo a expressão de liberdade dos seus seguidores, os quais usualmente viviam em grupos, preconizavam o amor, aboliam a discriminação racial e faziam sexo livremente. Valsinha exalta a liberdade dos integrantes desse movimento e a ousadia das manifestações nas suas relações afetivas, até então reprimidas e sufocadas na sociedade. A grande surpresa da canção fica por conta de seu sentido metafórico. A idéia concebida de que se refere a um casal apaixonado, deixa de ser tão importante para valorizar-se em uma dimensão maior: a do engajamento social. Seu sentido é muito mais global e universal, pois faz alusão a um movimento de caráter revolucionário que ousou desafiar a sociedade tradicional da época e contestar os valores e os padrões de seus regimes dominantes.

domingo, 29 de agosto de 2010

Espetáculos dos Integrantes do CEPECA

O professor Edu está em curta-temporada com o espetáculo-fruto de sua pesquisa de mestrado!... “Outra Sina de Existir” - Um espetáculo paisagem. O que se revela é uma ação cênica que coloca em jogo as distintas possibilidades de relações humanas: Homens e mulheres. Abandono. Maridos e esposas. Nascimentos. Pais e filhos. Incestos. Irmãos. Abortos. Amores. Desamores. Encontros. Despedidas. Morte. Como um caleidoscópio, as imagens se formam e se transformam, abrindo espaços às possibilidades e projeções de desejos que podem, ou não, ser reais. Ingresso amigo R$10,00 (alunos e pessoas que informarem ter recebido email ou convite via facebook)! Ingresso normal: R$30,00 (meia R$15,00).

No espetáculo ¨Cândida¨, está o integrante do CEPECA, ator, diretor e mestrando em Artes Cênicas na USP, João Bourbonnais. Há ingressos gratuitos para grupos mediante uma carta da escola confirmando a ida!